A musica de Cabo Verde

A música é a manifestação mais rica e mais universal da cultura cabo-verdiana. Fundador de uma nação nova de dezenas de culturas originárias, o povo de Cabo Verde vem desenvolvendo modelos originais da cultura musical, em que as alegrias e tristezas, os encontros e separações, a terra e o mar, fome e abundância, solidão e uma noite de nostalgia, o amor, a vida e a morte se transformam ora em melopeias dolentes, ora em desespero, ora ainda em melodias de esperança ou gritos de alegria e festejos.

Deste modo, foram-se gerando formas musicais mais ou menos rudimentares, como as cantigas da monda (guarda-pardal, guarda-corvo e guarda galinha-mato), tradicionais nas ilhas agrícolas (Santiago, Santo Antão, S. Nicolau e Brava), entoadas pelas crianças.

A música moderna, assim como os músicos cabo verdianos, produzem canções e melodias já muito parecidas com os gêneros ocidentais, mas as letras (escritas especialmente em Crioulo), lembram muitas situações do cotidiano nas quais vários jovens encontram.

Também de origem Europeia, subsistem em Cabo Verde na sua versão original (houve entretanto transformações), a valsa, a mazurka e a contra-dança (country dance, oriunda de Inglaterra).

Finalmente, uma referência às músicas fúnebres, que tem uma profunda tradição na sociedade cabo-verdiana, que com elas pretende recordar, por um lado, os entes queridos que se vão deste mundo e por outro lado, exorcizar, de algum modo, a morte e a tristeza que ela acarreta aos que ficam. A música da dança das carpideiras, que regularmente irrompem nos longos e concorridos velórios em Cabo Verde, no meio do silêncio reverente que é estabelecido, é de arrepiar os cabelos. A ilha da Boavista é citado principalmente como ilha da Morna, com um ritmo musical lento e melancólico, conhecida no mundo principalmente através de Cesária Évora.

De grande significado, em diversas ilhas, como Santo Antão, Fogo ou Boavista, são as festas de romaria, influenciadas pelas festas dos santos populares em Portugal, mas que adquiriram em Cabo Verde manifestações, melodias e ritmos próprios, com tambores, batimentos na borda dos pilões, comandados por uma mulher idosa, a coladera, que lidera um coro de mulheres entoando uma melodia pungente e monocórdica, como uma lamúria, que evoca pessoas e cenas da vida real. Entre elas, o colá-Son-Djon, que se dança à luz das fogueiras pelas festas joaninas, em junho, é o expoente máximo, ao que parece com origem nas umbigadas ou cheganças, ao tempo proibidas em Portugal.

Em Brava, desenvolveu-se um gênero chamado bombena, que era cantada em coro nos trabalhos agrícolas, e que se seguiu a cadência do trabalho em si. Em Santo Antão, onde se generalizou a utilização do trapiche, surgiram as “toadas de aboio”, cantadas para encorajar os bois a acelerarem a passada no terreiro;

Também no mar se cantava, retratando as cantigas marítimas de modo particularmente certeiro a fisionomia do cabo-verdiano e a sua forte ligação ao mar; particularmente ternas, as cantigas de ninar, entoadas geralmente pelas avós, que ficavam em casa a cuidar dos netos enquanto os respetivos pais laboravam; referência ainda às cantigas de roda, que animavam as crianças das escolas nos seus recreios, acompanhadas de mímica corporal.

As Lengalengas, as ladainhas (Santo Antão), as orações religiosas (Santiago), bem como as divinas (cantadas em polifonia em s. Nicolau) são emanações das cerimônias do culto Católico, para fora das igrejas, de modo geral num latim deturpado.

Também vale a pena mencionar as cantigas de S. Silvestro entoadas no final do ano e no início de Janeiro, com origem em Portugal de uma tradição chamada cantar as Janeiras. Há ainda referências a outros géneros pouco definidos, como o rill pequeno ou o maxixe (variante do landum), ambos na Boavista, decididamente uma comunidade conhecida por sua criatividade musical. Curiosamente, algumas histórias como Pastorinho de Cabra, Blimunde e Nana Tiguera são cantadas com base escala pentatônica, usada no Extremo Oriente.

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